ESPORTES
Como explica o neuropediatra Dr. Paulo Liberalesso no site www.institutopriorit.com.br:
Alterações da motricidade no Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Instituto Priorit Autismo para pais
"Desde as primeiras tentativas, há mais de três décadas, para se estabelecer os critérios diagnósticos do transtorno do espectro autista, questões referentes à motricidade nunca foram consideradas verdadeiramente importantes. Contudo, atualmente sabemos que a grande maioria das crianças com autismo apresenta alterações significativas tanto na motricidade fina quanto na motricidade ampla.
O desenvolvimento motor pode ser entendido como uma alteração contínua e sequencial no comportamento motor do indivíduo, que ocorre durante toda a sua vida e que resulta da interação entre a pessoa, o meio ambiente e as atividades que precisam ser aprendidas e realizadas.
Já o termo motricidade, podemos entender como a capacidade que cada um de nós tem para tomarmos decisões e executarmos movimentos, desde os mais simples até os mais complexos. Desse modo, um desenvolvimento motor adequado deve ser considerado fundamental para que a criança adquira independência em suas atividades de vida diária e para que estabeleça relações mais efetivas com outras crianças durante o brincar. Portanto, fica fácil entendermos que há uma relação bastante próxima entre desenvolvimento motor e socialização.
Quando consideramos um cérebro com desenvolvimento típico, a capacidade de controle dos movimentos vai se tornando cada vez mais complexa. Dessa forma, didaticamente, podemos dividir a motricidade em ampla (grossa) e fina. A motricidade ampla está relacionada ao controle corporal global, sendo responsável pela manutenção da nossa postura e do equilíbrio estático e dinâmico. A capacidade que nós, seres humanos, adquirimos durante milhares de anos de caminhar em postura ereta e bípede é considerada o ápice do controle corporal dinâmico.
Por outro lado, a motricidade fina está relacionada à execução de movimentos de maior precisão, movimentos mais refinados e que resultam do controle de pequenos músculos. Movimentos integrados, como aqueles que dependem da coordenação entre os olhos e os membros, e a capacidade de manipular um objeto com as duas mãos de forma precisa, também fazem parte do conceito de motricidade fina. Quanto mais complexa a atividade que precisa ser executada, maior o trabalho que nosso sistema nervoso central deve desempenhar para controlar as áreas motoras.
De um modo geral, podemos compreender que, para cada atividade motora que realizamos, há uma intrincada rede de neurônios localizados nos lobos frontais, no cerebelo e nos núcleos da base que, agindo conjuntamente, dão início ao movimento, controlam sua performance e determinam o seu término no momento e na intensidade adequados.
Assim como muitos aspectos do comportamento social e verbal (sabidamente comprometidos em muitos autistas), uma grande parte do aprendizado motor ocorre por fenômenos de cópia sendo, portanto, os níveis de atenção e concentração fundamentais para que este desenvolvimento ocorra de forma típica.
Quando avaliamos o desenvolvimento motor nas crianças com autismo, é importante considerarmos que há significativa variação nas habilidades motoras mesmo nas crianças típicas. Assim, iremos considerar atrasos do desenvolvimento motor quando estas habilidades forem consistentemente comprometidas e sempre com base em instrumentos ou escalas que nos permitam uma medida (avaliação) objetiva.
Alguns dos sinais e sintomas de disfunção da motricidade mais observados em crianças com transtorno do espectro autista são os discretos atrasos nos marcos motores fundamentais dos primeiros 18 meses (sustentar a cabeça, sentar, engatinhar, andar com e sem apoio), os distúrbios motores da fala (apraxias), caminhar na ponta dos pés (uma mescla entre alterações motoras e sensoriais) e alterações na programação motora das mãos (evidenciadas pela dificuldade para empunhar o lápis, pintar, desenhar e grafar letras). É muito comum que as famílias queixem-se de que as crianças autistas apresentam menor capacidade de manter o equilíbrio, o que frequentemente provoca quedas inexplicáveis. Além disso, é comum também a queixa de que estas crianças babam demais, o que normalmente é decorrente de um comprometimento funcional (tônus) da musculatura facial.
Atividades motoras complexas e que dependam da coordenação entre visão, noção espacial-temporal e sincronia muscular de membros superiores e inferiores, como por exemplo aprender a utilizar triciclos e bicicletas, também costumam ser bastante comprometidas nestas crianças.
Com o passar dos anos, a experiência permite que, durante a consulta médica de rotina, já seja possível perceber claramente os sinais de atraso do desenvolvimento motor. Contudo, mensurar o nível do atraso motor é importante e, para isso, há diversas escalas que podem ser utilizadas como a Escala de Desenvolvimento Motor, o Teste de Triagem do Desenvolvimento Denver, a Escala de Desenvolvimento Infantil de Bayley, entre outras.
Quando pensamos na formulação das rotinas de tratamento de crianças que estão dentro do transtorno do espectro autista, automaticamente nos referimos a profissionais das áreas da psicologia, da fonoaudiologia e da terapia ocupacional, já que o diagnóstico clínico desta condição é fundamentalmente embasado no comprometimento das funções executivas, das habilidades sociais e de comunicação. Contudo, com o atual conhecimento que temos a respeito das disfunções motoras e sensoriais no autismo, devemos considerar, em casos específicos, a necessidade de envolver outros profissionais no curso terapêutico, como fisioterapeutas e psicomotricistas.
Por fim, também é preciso compreender que muitas vezes nós não seremos capazes de tratar TODOS os sinais e sintomas do autismo em um único momento. Assim, é comum que os profissionais envolvidos no tratamento criem uma hierarquia de habilidades comprometidas (da mais grave para a menos grave) e que o tratamento siga este planejamento.
Um último ponto muito importante a ser considerado é que o tratamento do autismo deve ser dinâmico, ou seja, as rotinas de tratamento (quer no tocante à intensidade de carga horária, quer quanto às modalidades de tratamento) devem ser alteradas sempre que necessário conforme as necessidades específicas de cada criança em cada momento de sua evolução".
Dr. Paulo Liberalesso, MD, PhD. Médico do Departamento de Neurologia do Hospital Pequeno Príncipe, Curitiba, Paraná. Sócio-fundador do CERENA – Centro de Reabilitação Neuropediátrica do Hospital Menino Deus.
Seguem abaixo os links para os Marcos de Desenvolvimento e de algumas dessas escalas (não nos responsabilizamos sobre o conteúdo e qualidade dos mesmos):
BRINQUEDOS DE ENCAIXE
Normalmente a criança com autismo tem seu desenvolvimento motor prejudicado. Os brinquedos de encaixe com pininhos e som são bem estimulantes para quem está começando.
Como ensina @mayragaiato em seu IG (publicação de 12/09/2018): "O quebra-cabeça é um ótimo brinquedo para estimular habilidades de percepção visual. 💙 Se o seu filho ainda é pequeno ou apresenta dificuldade para montar, escolha um quebra-cabeça fácil e de poucas peças. Uma boa opção são os modelos de madeira com imagens simples para encaixar. Essa atividade promove a coordenação motora, estimula o contato "mão-olho" e ajuda a desenvolver a resolução de problemas. 😊 Conforme o seu filho for evoluindo na atividade, vá estimulando e trocando o quebra-cabeças por outro um pouco mais difícil. É importante promover sempre novos desafios nas brincadeiras e nunca deixar de estimular, ok?"
NATAÇÃO
A natação é o esporte mais recomendado para autistas, pois geralmente adoram o contato com a água e também por ser uma atividade mais individual. Normalmente é a primeira atividade física recomendada para estimular a coordenação motora.
Conforme IG @autismonossomundo:
"Terapia aquática
Auxilia no treinamento para controle de tronco, aumento do tônus postural e estímulos a interação e percepção corporal, assim como o aumento do contato visual e atenção.
Fora da piscina, pude trazer para meu cotidiano uma criança com uma concentração melhor nas atividades escolares e AVD (atividades de vida diária), atendendo a comandos , sabendo esperar a sua vez".
PARQUINHOS
Os parquinhos também são ótimos aliados para estimular a coordenação de forma divertida! Além disto, possibilitam a socialização com outras crianças!
NINHO DE GATO
O chamado "ninho de gato" também desenvolve as habilidades motoras. Desenvolvemos este com um baú de brinquedos comprado em loja infantil, passando elásticos por dentro.
BOLAS
Trabalhar com bolas, arremessando, fazendo boliche, etc., também são ótimas formas de desenvolver sua coordenação.
BLOCOS DE MADEIRA
Construções com blocos de madeira e outros trabalham tanto a coordenação motora fina quanto ampla.
VAI E VEM
Esse clássico brinquedo denominado vai e vem é uma excelente forma de exercitar a coordenação motora dos braços.
PEDALAR
Esse clássico brinquedo denominado vai e vem é uma excelente forma de exercitar a coordenação motora dos braços.
ATIVIDADE MULTITAREFAS
Atividade multi-tarefas de coordenação com o terapeuta Victor Ruan.
BRINQUEDOS COM MANIVELA
Brinquedos com manivela preparam a criança para movimentos da vida prática como abrir uma torneira ou a tampa de uma garrafa.
ARTES MARCIAIS
Felipe Nilo
Veja trechos da entrevista com o 3 vezes campeão Mundial de Jiu-Jitsu, Felipe Nilo, que faz um lindo trabalho com crianças e jovens com Autismo, e entenda todas as vantagens que se pode obter com a luta marcial se bem trabalhado.
Para saber mais, acesse os demais vídeos mais completos disponíveis no canal do Youtube Autistologos (procure por Autistologos Felipe Nilo).
ARTES MARCIAIS
Felipe Nilo e Dra. Deborah Kerches
Como explica Dra. Deborah Kerches:
"Neste quarto vídeo falamos sobre o papel das artes marciais favorecendo a psicomotricidade.
As lutas são capazes de auxiliar no processo de aquisição de esquema e consciência corporal dentro de um ambiente e de um contexto. Lateralidade, equilíbrio, organização e estruturação espacial são trabalhadas durante as atividades. Com o trabalho da psicomotricidade, se adquire maior domínio sobre seus movimentos.
Neste vídeo, o Felipe Nilo mostra para vocês alguns exercícios que trabalham a psicomotricidade com a ajuda da minha filha Manuella.
As lutas são importantes ferramentas para o desenvolvimento de habilidades motoras, comunicativas, sociais, de consciência corporal, manejo comportamental e de questões sensoriais, controle da ansiedade, peso e higiene do sono, paciência, além de melhorar a autoestima, autoconfiança, disciplina, possibilitando que crianças, adolescentes e adultos com autismo sejam capazes de se superarem e serem verdadeiros campeões da vida".
JIU-JITSU
Veja a comovente historia de Igor Nogueira.
PSICOMOTRICIDADE
Seguem dicas da Faculdade de São Luis para estimular a psicomotricidade e a consciência corporal:
CIRCUITO
Autistologos e Autismo Gemelar
Seguem exemplos de circuitos do Matheus e do IG @autismogemelar
CIRCUITO
@autismogemelar
"Mini circuito que trabalhou Equilíbrio Dinâmico, que são movimentos locomotores, como o andar em marcha normal sobre uma linha pré-limitada. Trabalhou-se também a coordenação visomotora, que é a capacidade de ver e diferenciar objetos apresentados no campo visual com significado e precisão. Quando bem integrado, auxilia o processo de aquisição da escrita e leitura, através da memória e organização visual. Além dos saltos, associação e pareamento das cores".
CIRCUITO
@autismogemelar
“Macaquinhos caíram na lagoa e terão que ser salvos por uma mini heroína. Neste circuito, trabalhou-se planejamento motor, noções de espaço corporal, equilíbrio e saltos (abrindo e fechando as pernas). Brinquei com o simbólico usando a lagoa e dois animais selvagens (jacaré e hipopótamo) e mais a frente uma família de rinoceronte. E Nicole salvou todos os macaquinhos deixando-os em segurança na árvore.”
HABILIDADES EXECUTIVAS @autismogemelar
Nesta atividade o objetivo mais predominante é o desenvolvimento de habilidades executivas e perceptivas: planejamento motor, foco, organização corporal e regulação da postura e tônus para manter o equilíbrio para agachar. Envolve outras habilidades como coordenação fina, noções de espaço e lateralidade e cognitivas (pareamento, cores).
ARRASTAR @autismogemelar
O objetivo desta atividade é a vivência do movimento de arrastar-se que é uma ação motora básica de deslocamento, que exige força e coordenação do tronco com os movimentos dos braços e pernas. Planejamento motor e noções espaço corporal - capacidade de ajustar-se ao espaço disponível (passar por debaixo das barreiras sem ficar se batendo nelas e sem derrubá-las). Dica: Fiz com barras, mas você pode fazer com escada e colocar caixas nas laterais para ficar suspensa, ou pode usar corda também.
PLANEJAMENTO MOTOR E FORÇA @autismogemelar
Nesta atividade as meninas trabalharam puxada alternada, planejamento motor e força.
COORDENAÇÃO E EQUILÍBRIO @autismogemelar
COORDENAÇÃO COM OS PÉS @autismogemelar
Nesta atividade, Nicole transfere as argolas, que estão na piscininha cheia de bolinhas de silicone, para a bacia com os pés. Ótimo para trabalhar coordenação motora, concentração, força do abdômen, movimento do quadril e paciência.
COREOGRAFIAS
COREOGRAFIAS - As HABILIDADES MOTORAS permitem a aquisição de INDEPENDÊNCIA para as funções do dia-a-dia que podem ser desafiadoras em alguns casos (por exemplo, no filme Rain Main em que, apesar de sua genialidade, o personagem de Dustin Roffman não conseguia fechar os botões de sua própria camisa - assista vídeo @mayragaiato) e ainda estimular a COORDENAÇÃO MOTORA FINA quando envolvem movimentos com as mãos e/ou dedos, que preparam para a escrita (uma dificuldade muito comum entre as pessoas com Autismo). Além disto, as coreografias são brincadeiras que desenvolvem a IMITAÇÃO, a INTERAÇÃO prazeirosa e ainda o RITMO, que é necessário, por exemplo, para desenvolver uma fala não robotizada (recorrente em pessoas com Autismo). Para acessar os vídeos completos com as coreografias, acesse a Playlist no Youtube do Autistologos (veja vídeo). Relação de clipes: 1) Rouge - Ragatanga, 2) Xuxa - 5 Patinhos, 3) A Turma do Seu Lobato - Dancinha do Corpo, 4) Tchutchuê - Pequenos Atos / FitDance Kids, 5) Os Dedinhos - Carinha de Anjo, 6) Macarena - Just Dance 2015, 7) Psy - Gangnan Style, 8) Galinha Pintadinha - Pintinho Amarelinho, 9) Bob Zoom - Cabeça, Ombro, Joelho e Pé.
ATIVIDADE FÍSICA
Rogrigo Brivio
Rodrigo Brivio usa a ginástica para estimular jovens e crianças do Espectro do Autismo. Explica que a estimulação motora pode e deve ser usada como fator para o desenvolvimento da criança. Acrescenta que o objetivo principal é que as crianças fiquem felizes por estarem lá, além de várias outros benefícios que desencadeiam.
Autismo e a importância da prática exercícios físicos:
Como ensina Fátima de Kwant:
"Todo mundo sabe que o exercício físico faz bem. Nem todo mundo sabe bem por que faz bem, mas sabe que é fato que faz bem. Seja para emagrecer, para se distrair, ficar saudável ou ficar mais forte, o exercício físico faz parte da vida de milhões de pessoas. Mas tem muitos milhões que não se exercitam, por varias razões. No caso da criança autista, pode ser a dificuldade motora, ou dificuldade de entender as regras de um esporte. Muitos pais acreditam que o esporte não seja tão necessário quanto outras terapias. A princípio, assim parece. Mas deixa eu explicar o que o exercício físico pode fazer pelo seu filho autista?
- Mais energia mental (concentração, foco)
- Menos agitação física - Mais capacidade de aprender (cognição)
- Menos tédio - Mais disposição - Menos preguiça
- Mais possibilidade de para socializar (esporte em time)
- Menos introspeção - Mais memória - Menos crises - Mais coordenação motora - Menos dificuldades em executar tarefas manuais - Mais equilíbrio entre os dois hemisférios cerebrais - Menos problemas de comportamento - Mais facilidade para assimilar linguagem
- Menos chances de esquecerem tarefas - Mais autoconfiança, mais força física e estímulos dos sentidos, principalmente o proprioceptor (domínio, controle sobre o corpo) e do vestibular (equilíbrio). Nossos filhos autistas não precisam ter nível de atleta para se beneficiarem de exercícios físicos. Às vezes isso até acontece. Atleta em formação, ou não, o exercício físico é tão importante quanto todas as outras terapias para os autistas".
A fonoaudiologa Luciana Farias explica:
"Na Educação Infantil, a criança busca experiências em seu próprio corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal. A abordagem da Psicomotricidade irá permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio desse corpo, localizando-se no tempo e no espaço. O movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante. É necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento.
O trabalho da educação psicomotora com as crianças deve prever a formação de base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando oportunidade para que por meio de jogos, de atividades lúdicas, se conscientize sobre seu corpo. Através da recreação a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor. Para que a criança desenvolva o controle mental de sua expressão motora, a recreação deve realizar atividades considerando seus níveis de maturação biológica. A recreação dirigida proporciona a aprendizagem das crianças em várias atividades esportivas que ajudam na conservação da saúde física, mental e no equilíbrio sócio-afetivo.
Bons exemplos de atividades físicas são aquelas de caráter recreativo, que favorecem a consolidação de hábitos, o desenvolvimento corporal e mental, a melhoria da aptidão física, a socialização, a criatividade; tudo isso visando à formação da sua personalidade".
Seguem mais exemplos de exercícios no link abaixo: